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Contra aumento de ICMS, entidades da saúde privada pressionam governo Doria

Contra aumento de ICMS, entidades da saúde privada pressionam governo Doria

Entidades representantes do setor de saúde privada lançaram, nesta 2ª feira (1.mar.2021), uma campanha contra o aumento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em São Paulo para produtos e equipamentos usados em hospitais e clínicas médicas.

Desde 1º de janeiro de 2021, produtos antes isentos do imposto passaram a ser tributados com alíquotas de até 18% no Estado. Decretos publicados pelo governador de São Paulo, João Doria, em outubro de 2020, autorizaram o aumento.

De acordo com dados da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), o percentual de 18% de cobrança de ICMS poderá aumentar os custos do setor em R$ 1,3 bilhão. A Abraidi (Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde) estima que a tributação representará um acréscimo de gastos anuais de R$ 2,54 bilhões na saúde pública e de R$ 2,73 bilhões na rede privada para manter o atendimento à população.

Segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), o setor de planos de saúde registrou em janeiro de 2021 o maior número de beneficiários desde 2016.

Foram 47,7 milhões de beneficiários em planos de assistência médica, um aumento de 0,16% em relação a dezembro de 2020.

O novo patamar de cobrança pode ter consequências para o enfrentamento da covid-19. Segundo levantamento da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), seringas e agulhas descartáveis -usadas na vacinação contra o coronavírus- tiveram aumento de 1,5% no ICMS.

Pode haver, também, prejuízo na capacidade de detectar o vírus. É o alerta que faz a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica). “Exames de imagem do tórax são utilizados tanto para confirmação diagnóstica da infecção quanto para acompanhamento do comprometimento pulmonar dos pacientes”, diz a entidade. Em 2020, o setor de medicina diagnóstica teve uma redução de 15,3% nas receitas brutas, o que representa uma queda de R$ 6 bilhões, segundo estimou a Abramed.

Outros itens tiveram incrementos maiores. Antes isentos, fármacos e medicamentos para tratamento de Aids e de câncer passaram a ter uma alíquota de 18% de ICMS ou de 12%, no caso de genéricos. Sobre equipamentos e insumos usados em cirurgias, também passou a incidir o percentual de 18%. Antes, eram isentos.

O governo de São Paulo afirma que medicamentos de alta complexidade, como os que combatem a Aids e câncer, continuarão tendo a distribuição gratuita na rede pública.

Representantes do setor afirmam que o aumento de ICMS poderá impactar toda a cadeia de serviços de saúde e aumentar a procura pelo sistema público. A situação poderia piorar a lotação nos hospitais, já bastante afetados pela pandemia de coronavírus.

Em fevereiro, o Estado de São Paulo bateu recorde de internações em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). No sábado (27.fev) haviam 7.011 pacientes com coronavírus internados em UTIs, segundo o governo. É a 1ª vez, desde o começo da pandemia, que o número passou a marca de 7.000 leitos ocupados.

“Estamos lutando pelo setor”, disse Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo da Anahp, em entrevista a jornalistas, ao lado de representantes de outras entidades nesta 2ª feira (1.mar).

“O movimento surgiu da necessidade de questionar a decisão do governo de São Paulo de aumentar impostos. Partimos de zero para alíquotas de 18%. A saúde foi o único setor que teve todos os benefícios retirados”, declarou.

Para Fernando Silveira Filho, presidente da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde), a indústria de equipamentos médicos terá que incorporar as mudanças tributárias e repassar esse custo para toda a cadeia de saúde.

“Entendemos a necessidade de manter o equilíbrio nas contas públicas, mas a carga imposta ao setor de saúde foi exagerada”, afirmou.

Ao Poder360, o governo de São Paulo disse que a revisão de benefícios fiscais não atingirá a rede pública de saúde. “O Governo do Estado já garantiu a manutenção do benefício fiscal para a cesta básica de remédios e medicamentos genéricos, assim como para todas as compras de hospitais públicos, Santas Casas e rede de atendimento do SUS”, disse em nota (leia o texto completo ao fim da reportagem)

Representantes das entidades tentam convencer deputados estaduais a reverter o aumento da carga tributária. Na Alesp, uma frente de deputados de 14 partidos protocolou um projeto de lei para revogar o poder do governo em aumentar impostos.

Apresentaram a proposta os partidos Novo, PSB, Patriota, PSL, PP, PTB, Avante, PL, PDT, Pros, Republicanos, PC do B, Rede e PSD.

“O mundo todo neste momento tem uma única preocupação, que é tratar os pacientes com covid. Ninguém no mundo está preocupado em organizar as finanças provocadas por gastos a mais no momento de tratamento da covid. Só o estado de São Paulo resolveu por em ordem suas finanças, considerando que elas são mais importantes do que os recursos que a saúde demanda no momento”, disse Paulo Henrique Fraccaro, da Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos).

TRIBUTAÇÃO

O governo de São Paulo passou a ter o poder de cancelar benefícios fiscais em 2020, graças à Lei 17.293/2020, que instituiu um ajuste fiscal no Estado. Toda isenção de ICMS menor do que 18% passou a ser considerada um benefício fiscal.

Aprovada pela Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) em outubro de 2020, a lei foi sancionada pelo governador e passou a valer a partir de 16 de outubro. No mesmo dia, foram publicados no diário oficial do Estado 4 decretos que reduzem os benefícios fiscais.

Estados e o Distrito Federal têm autorização do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) para conceder benefícios fiscais a determinados setores, diminuindo a alíquota de cobrança do ICMS.

O convênio nº 1 de 1999, do Confaz, elenca 197 equipamentos e insumos usados na prestação de serviços de saúde que podem ser isentos de ICMS nos Estados.

AJUSTE FISCAL

Segundo o governo de São Paulo, o ajuste fiscal no Estado buscou resolver um deficit orçamentário de R$ 10,4 bilhões para 2021 causado pela pandemia de coronavírus: aumento das despesas públicas e diminuição da arrecadação.

Além do aumento no ICMS, o governo foi autorizado a extinguir autarquias e empresas públicas, como a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo) e a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).

Leia a íntegra da nota encaminhada pelo governo de São Paulo ao Poder360:

A revisão de benefícios fiscais não atingirá a rede pública de saúde. O Governo do Estado já garantiu a manutenção do benefício fiscal para a cesta básica de remédios e medicamentos genéricos, assim como para todas as compras de hospitais públicos, Santas Casas e rede de atendimento do SUS.

Além disso, medicamentos de alta complexidade – que combatem a AIDS e câncer, entre outros – continuarão tendo a distribuição gratuita na rede pública.

É de conhecimento público que no Estado de São Paulo, a alíquota padrão do ICMS é de 18% e as alíquotas inferiores são incentivo fiscal, previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. As entidades que representam o setor de saúde particular foram recebidos em reuniões e ouvidas pelo governo nos últimos meses. A eles foi explicado de maneira clara e objetiva que a prioridade do governo, nesse momento de pandemia, é garantir o atendimento gratuito à população mais carente, tanto em saúde como em outros serviços essenciais, como educação, segurança pública e assistência social.

O Governo esclareceu, ainda, que o ajuste fiscal é temporário (até 24 meses) e que, portanto, todos precisam dar sua cota de contribuição.

Por fim, a rede particular de saúde sempre foi beneficiada pelo Governo com a redução de tributos, mas contrariando a lógica, nunca repassou esses benefícios ao consumidor. O reajuste abusivo dos planos de saúde em 2020 – 8,14% sobre os contratos individuais e de 15% sobre os coletivos, valores muito acima da inflação (4,52%) – tem levado à migração de pacientes particulares para o SUS, aumentando a demanda por atendimento na rede pública. Portanto, o argumento de que a redução dos benefícios fiscais prejudicará o atendimento aos seus seus clientes é falacioso.